segunda-feira, 31 de maio de 2010

Entrevista: Miguel Melo falou da experiência que está a viver na Polónia

“O trabalho voluntário é uma forma de não me sentir inútil"


Para Miguel Melo o voluntariado é um jogo em que ninguém sai a perder. (Foto cedida pelo entrevistado)


Começou, ainda em tenra idade, por levar um sorriso aos mais velhos, e nunca mais parou, nunca mais se quis sentir inútil. Agora, aos 23 anos, a vontade de ajudar levou Miguel Melo a voar para mais longe, a correr atrás de uma oportunidade que há muito esperava.



Como é que começou a fazer voluntariado?

M: Não sei bem. Foi aos 11 anos quando entrei para o Corpo Nacional de Escutas, uma instituição onde a lógica do serviço à comunidade é implementada desde cedo.


Que importância entende que tem o trabalho voluntário na sociedade?

M: Várias. A sociedade, hoje em dia, está muito orientada para o consumismo. Num sistema económico como o nosso, entende-se que só os serviços que dão lucro ou que são eficientes podem subsistir. Mas o facto é que alguém que não se rege pelas regras do lucro (o voluntário) pode dar à comunidade onde está inserido serviços que esta nunca teria hipótese de conseguir pela via convencional.


E para si?

M: É uma boa pergunta. O trabalho voluntário é uma forma de não me sentir inútil... Conheço pessoas, trabalho em equipa, ajudo a sociedade e aprendo com isso, desenvolvendo competências técnicas e sociais. É um jogo de soma positiva em que ninguém sai a perder.


Que género de trabalhos voluntários é que já realizou?

M: Já fiz vários trabalhos. A minha p

rimeira experiência foi entretenimento de idosos num lar da terceira idade perdido no meio do Alentejo. Depois, como me juntei aos escuteiros, continuei a fazer acções com idosos e crianças, mas principalmente acções ligadas à conservação ambiental. Mais tarde, aos 21 anos, entrei para uma organização chamada PAR que procura a integração social de adolescentes em risco.



Actualmente, a que projecto de voluntariado se encontra ligado?

M: Estou a fazer Serviço de Voluntariado Europeu (SVE), mais propriamente a Acção 2 do Programa Juventude em Acção, coordenado pela Comissão

Europeia. No meu caso em específico, estou a trabalhar como voluntário numa organização de promoção para o diálogo intercultural e integração social de adolescentes, chamada Cim-Horyzonty, na Polónia. Desenvolvo workshops de arte na escola primária, dou aulas de português no gymnasium - que equivale ao preparatório, colaboro com aulas de capoeira no centro cultural da freguesia e dou aulas de inglês a pessoas da associação. Aos sábados também trabalho num klub de integração social para adolescentes que não sabem o que fazer, promovo o SVE entre jovens polacos.




Como é que surgiu esta oportunidade?

M: Sorte. Já queria fazer um SVE há muito tempo, mas ainda não tinha começado realmente à procura. Quando acabei a licenciatura,em Relações Internacionais, em Setembro de 2009, queria ter-me logo inscrito. No entanto, surgiram algumas oportunidades de trabalho que acabaram por nunca se realizar. No início de 2010 decidi que ia dedicar-me totalmente à procura de um projecto e, por sorte, recebi um e-mail a dizer que uma organização andava desesperada à procura de um voluntário substituto para ser enviado para a Polónia e eu agarrei a oportunidade.


O que despertou o seu interesse pelo voluntariado internacional?

M: Foi precisamente o facto de ser internacional, o que dá ao voluntariado um toque mais picante. O curso que tirei também foi importante na minha decisão. Acho um desperdício de capacidade ficar toda a vida em Portugal. Precisava de uma mudança grande na minha vida, sentia-me um pouco preso e este projecto foi sem dúvida uma libertação.


E como é que está a lidar com as diferenças culturais?

M: As diferenças culturais são grandes, às vezes abismais, mas estou a lidar bem com elas. O que é mais stressante é o facto de não perceber o que se fala à minha volta e de não compreender a lógica e o horário das refeições. Esses detalhes deixam-me exasperado.


Sente que a forma como se processa o voluntariado na Polónia é diferente da forma como se faz em Portugal?

M: Sinceramente acho que não. Olhando para a organização onde estou inserido aqui e para outras onde já estive em Portugal, as diferenças são mínimas. Estas organizações são consideradas Organizações Não Governamentais e funcionam em moldes muito parecidos. Agora, é importante referir que o SVE é algo completamente diferente de tudo o que já fiz na vida.


Como é a sua rotina diária?

M: Levanto-me cedo para Portugal e tarde para a Polónia, ou seja às oito horas. Passo a manhã no escritório, em reuniões. Ao início da tarde tenho workshops, o que ocupa cerca de duas horas do meu dia. Depois volto para o escritório, eventualmente para preparar planos. Se não tiver mais workshops, ou aulas de polaco, vou para casa jantar, para em seguida ir aos treinos de capoeira. Quando posso vou ainda beber uma cerveja com amigos.


Que tipo de apoios é que recebe?

M: Tenho dinheiro para a alimentação, do qual tenho que guardar recibos. Para tudo o resto que não cabe nesta categoria recebo dinheiro extra chamado pocket money. Além disso, tenho ainda direito a habitação, a transportes urbanos pagos, um seguro de saúde específico para voluntários europeus e ainda aulas de polaco.


O que é que tira desta experiência?

M: Já vou com três meses e ainda não sei. Estou a ter uma experiência extremamente poderosa e amizades muito fortes, mas ainda é cedo para dizer exactamente o que estou a tirar. Mas é certo que a minha habilidade para dar aulas de línguas está a melhorar, assim como a capacidade de lidar com crianças e adolescentes. E, claro, a capacidade de comunicar em polaco - ou quase.


Quanto tempo mais vai permanecer na Polónia a trabalhar nesse projecto?

M: Cheguei no dia 26 de Fevereiro e vou partir no dia um de Dezembro.


E quanto a projectos futuros?

M: Não os tenho. Após um de Dezembro, a minha única obrigação é promover a minha experiência em Portugal.

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